Foi por ocasião da romaria diocesana. O esforço de encontrar símbolos que ajudassem o povo a compreender melhor o tema da celebração, resultou na boa ideia de visualizar a Assunção de Maria, fazendo seu quadro subir lentamente para o espaço, acompanhado pelo olhar da multidão congregada na praça da Catedral.
O expediente encontrado foi simples, e de fácil realização. Foram enchidos alguns balões, com gás especial. Trançados uns aos outros, somavam impulso suficiente para levar ao alto o quadro bonito de Maria.
E assim aconteceu. Cortado o fio invisível que os retinha, foram rapidamente subindo, levando junto o quadro de Maria. Por sorte, a brisa era suave, e soprava em direção ao povo. De tal modo que o quadro ia subindo bem sobre a multidão, que contemplava extasiada a cena, com a sensação de que Maria abençoava a todos, enquanto ia subindo, lenta e firmemente, até desaparecer “nas alturas celestes”.
Pronto! Estava encenada a Assunção de Maria, de maneira bem visual e impressionante.
A cena bem sucedida num ano, inspirou a ideia para o ano seguinte. Mas não deu muito certo!
Desta vez, tratava-se de celebrar o jubileu do Concílio Vaticano II. A ideia dos balões foi logo aceita, dada a experiência positiva do ano anterior. Pensou-se de simbolizar o deslanche da renovação eclesial, proposta pelo Concílio idealizado por João XXIII.
Os balões se incumbiriam, então, de levar ao alto o quadro de João XXIII, simbolizando a decolagem do Concílio.
Acontece que não calcularam bem a dose de gás, necessária para impulsionar os balões. O gás não foi suficiente. Os balões ficaram murchos. E na hora de decolarem, o peso de João XXIII teimosamente os retinha. O povo ficou torcendo que o vento viesse em socorro dos balões, mas a brisa imperceptível não alterava o panorama.
Até que alguém teve a intuição. Mas do que rapidamente, com uma tesoura afiada, cortou o pano e desprendeu a moldura que envolvia o quadro de João XXIII.
Pronto! Diminuído o peso, os balões decolaram. E o quadro de João XXIII também foi subindo. Lá de cima, parecia falar ao povo, explicando o que estava acontecendo.
Pois a cena, pensada como símbolo de uma mensagem, acabou expressando outra, mais complexa e mais verdadeira.
O impasse dos balões sem gás, na verdade, se tornou símbolo da dificuldade em acolher a proposta renovadora do Concílio.
Com pouco gás, os balões não sobem. Com pouca motivação, a reforma conciliar não deslancha.
Na verdade, a cena com os balões apresentava duas opções. Ou se devia colocar mais gás nos balões. Ou se devia diminuir o peso do quadro. Optou-se pelo mais prático e mais acessível: diminuir o peso. Porque era problemático conseguir mais gás, e colocá-lo nos balões.
Assim agora. Para implementar o intenso processo de renovação eclesial, desencadeado pelo Concílio, é preciso ter muita motivação. É preciso ter muito gás!
A tentação permanece a mesma: diminuir o peso. Diminuir o alcance do Concílio, esquecer suas grandes intuições pastorais, neutralizar seu grande impulso de renovação eclesial, e reduzi-lo a um episódio isolado, e fazer de conta que ele nem tenha acontecido.
Na verdade, para salvar o Concílio é preciso renovar as grandes motivações que ele despertou.
Não se trata de diminuir o seu alcance. Trata-se de retomar o entusiasmo com que o Concílio foi sonhado e proposto por João XXIII.
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